segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Momento Sério.

Nas palavras do grande mestre, Machado de Assis;

“A Rua do Ouvidor resume o Rio de Janeiro (...) O rosto da cidade fluminense é esta rua, rosto eloqüente que exprime todos os sentimentos e todas as idéias...”

Amarelada, sépia, a Rua do Ouvidor se estende cortando o centro carioca como uma faca no seio do tempo. Preserva ainda os olhares inquietos dos transeuntes agitados que por lá passam todos os dias. Os coches não mais lá estão; no seu lugar, surgem, intrometidos, os automóveis que se espremem entre pedestres. A rua esta mais agitada, a vida está mais agitada. Machado não previa isto, nem nunca se propôs ao futurismo, mas a exatidão de suas palavras povoa o centro do Rio, assim como outras partes da cidade que estrelam em seus romances.

“- Este gosto de imitar as francesas da rua do ouvidor, dizia-me José Dias... As moças devem andar como sempre andaram, com seu vagar e paciência, e não este tique-taque afrancesado...”

E se Machado de Assis nos visse hoje, andando na Rua do Ouvidor, o que diria? Qual descrição seria de melhor feitio para seus livros? Os ternos caros de executivos? As roupas velhas dos mendigos? O andar triunfante das meninas de hoje, com suas roupas provocativas? Teria Machado tanto amor por esta nova rua? Não mais imitamos os franceses, agora somos cidadãos do mundo. Diversidade de estilos, culturas, andares, e até mesmo franceses, participam desta sinfonia.

Na Rua Uruguaiana, um grupo de curiosos circunda o pregador de palavras fortes, o vendedor de bugingangas. O morro do castelo sobrevive apenas nos textos, a Glória é agora povoada por travestis e prostitutas; O centro do Rio mudou. Na época de Machado, era lugar de ricos, da elite cultural carioca, e, por que não, brasileira. Atualmente, os poucos que sobraram são pobres, muito pobres.

O Bairro do Cosme Velho abriga antiga casa de Machado de Assis. Grande, como não são as casas de hoje, e bela. Muito bela. Por lá, hoje, passeiam babás carregando e crianças, casais, idosos. Como numa chácara antiga, oriunda de um túnel do tempo, que nos leva ao século passado.

“Chilreavam na chácara vizinha à casa do doutor algumas aves afeitas à vida simi-urbana, semi-silvestre que lhes pode oferecer uma chácara nas Laranjeiras.”

Na rua das Laranjeiras passam mais carros do que deveriam. O túnel Rebouças transformou o que era um bairro calmo, tranqüilo, num mar de carros e engarrafamentos. No caminho, o time tricolor sentou sua morada. O fluminense banha-se nas fontes deste bairro histórico.

Copacabana era um lugar ermo e de difícil acesso, onde só se chegava a cavalo. A praia deserta era verde, limpa e quieta.

“Mas tudo cansa, até a solidão. Aires entrou a sentir uma ponta de aborrecimento: bocejava, cochilava, tinha sede de gente viva, estranha, qualquer que fosse, alegre ou triste. Metia-se por bairros estranhos, trepava aos morros, ia as igrejas velhas, às ruas novas, à Copacabana e à Tijuca. O mar ali, aqui o mato e a vista acordavam nele uma infinidade de ecos, que pareciam as próprias vozes antigas.”

A Copacabana de Assis pouco se assemelha aos dias atuais, onde um bairro já velho bebe dos tempos da garota, dos poetas e da bossa nova.

Chegamos, então, ao bairro de Santa Teresa, onde tudo se resume, principalmente com uma descida à Lapa. O bonde elétrico era novidade. Os cocheiros, desempregados, viam a novidade com maus olhos, mas o ar moderno que conferira ao bairro não podia ser ignorado. Estendia-se aos arcos do bairro da Lapa, e ligava-se ao centro da cidade.

Santa Teresa, hoje, é o reduto dos artistas. Segundo eles, o bairro confere às suas obras uma aura secular, bucólica. Nos carnavais, os melhores blocos saem de lá, espremidos em suas pequenas ruelas, sobre os trilhos metálicos do bonde. Botecos, botequins, muitos ainda são os mesmos. O ar de Santa Teresa parece ainda ser o mesmo. No fundo, quando revisamos as páginas de um antigo livro de fotografias, ou quando lemos um livro de Machado de Assis, sob o sol do Rio de Janeiro, as cores sépia destacam-se. Voltamos ao Rio antigo e nostálgico, mas belo como sempre.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ola senhores agradeço pelo texto ele está muito bem colocado. A banalização de uma das ruas mais charmosas do Rio de Janeiro é uma vergonha. Com isto farei um trabalho sobre materia de video onde copiei um pedaço do seu texto como apoio a minha ideia. Com os devidos cuidado coloquei a referencia em homenagem ao Bruno Macchiute por ter o seu segundo nome. Peço desculpa ao xicão e agradeço não só pelo texto incrivel e bem colocado mas por se importar com está rua que nunca deve esquecida.

Abraços

Diego Machado

Anônimo disse...

Ops me enganei pensei que fosse o xicão que havia escrito. Mesmo assim deixo meus agradecimentos. Sendo assim a referencia está correta.

Sem mais.

Diego Machado