sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O que é notícia pra você?

Eu nada tenho a ver com a sua vida, desconfiado leitor, mas, antes de mecanicamente mudar para o Google, me dê uma chance, quero convidá-lo a uma reflexão: Quais são suas prioridades? Ganhar um milhão de reais antes dos 40 anos e gastá-lo antes dos 50; formar uma família de classe média e ver sua prole crescer até exercer, orgulhosa, a mesma profissão do pai; ou simplesmente viver um dia de cada vez, fugir do modo automático e pensar sobre os problemas que se impõem à sociedade?

Bom, você está no “Mundo Sustentável”, pois suponho que se encaixe na segunda ou terceira opção. Mas você não está no divã, não é um “ex-BBB”, nem dançarina do Pânico na TV. Sua vida ainda me é desinteressante. A análise aqui não é sobre suas prioridades, mas sobre as prioridades que selecionam para você.

Em tese, jornais são veículos reflexivos e reflexos da sociedade. Diariamente, selecionam os temas mais importantes e relevantes para você, leitor, se “antenar” e entender os nós do nosso esgarçado tecido social. Pois bem.

Hoje, na ordem do dia, temos assuntos importantíssimos a discutir, como o Novo Código Florestal, o vazamento de óleo da Chevron na Bacia de Campos, a construção da terceira maior usina hidrelétrica do mundo em condições escusas, mas no menú dos periódicos as opções são outras: crise na Itália, crise na Grécia, crise na Espanha, crise, crise, crise.

Nos últimos meses, a crise econômica na Itália mereceu esmagadoramente mais destaque do que a tramitação do novo Código Florestal no Senado, por exemplo. O declínio da economia de um país que, segundo um ranking do Banco Mundial, está 30 posições à frente do Brasil em renda per capita, importa mais do que a lei que norteará a nossa relação com a natureza, pressagiando uma vastidão de possibilidades para o futuro do país.

Na última semana, a crise econômica da Espanha também foi um sucesso. As matérias sobre as condições de vida dos espanhóis provavelmente comprometeram as equipes de jornalistas aqui do Rio, que só uma semana depois estamparam uma notícia sobre o vazamento de óleo da Chevron na Bacia de Campos. Certamente o assunto não mereceu atenção. Afinal, essa irresponsabilidade com a maior fonte de riqueza do Rio, num momento de discussão sobre royaltes e pré-sal, essa agressão à nossa bacia não se impõe à crise da Espanha que, segundo ranking da ONU, coitada, só está 60 posições à frente do Brasil em índice de desenvolvimento humano.

Nos últimos dias, a crise na Grécia – “aí chega a ser covardia” – pulverizou qualquer chance de noticiarmos os desmandos e impactos da construção de Belo Monte, que corre escusa e espuriamente, a despeito dos interesses de índios, técnicos, fauna e flora. A Grécia, âncora da crise, ainda tem muito menos desigualdade que o Brasil.

Não que estes assuntos sejam excludentes. Sei do caráter transversal das crises econômicas mundo afora e das marolas que atingirão o Brasil. Mas sei também da importância de colocarmos em pauta outros assuntos que não sejam unicamente econômicos. Fugir do modo automático de manchetar os jornais, identificar os novos desafios e problemas e apresentá-los à sociedade são tarefas que cabem aos jornalistas. A Amazônia não é mais distante que a Itália. A Bacia de Campos está ao nosso lado. A Espanha, nem tanto.

A menos que você, leitor, priorize apenas acumular 1 milhão de reais antes dos 40 anos para gastá-lo antes dos 50, estes assuntos alijados não lhe interessam. Caso contrário, deve pensar como eu. E se as prioridades são exclusivamente economicistas, minha formação jornalística é um retumbante equívoco.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hola, hemos agregado un trackback (enlace hacia este artículo) en el nuestro ya que nos pareció muy interesante la información detallada pero no quisimos copiarla, sino que nuestros lectores vengan directamente a la fuente. Gracias... consultar simit